Neuroarquitetura: Como os Espaços Transformam Comportamentos e Promovem Bem-Estar
Introdução
A neuroarquitetura é um campo emergente que combina design atualizado e neurociência para criar espaços que melhoram a qualidade de vida e o bem-estar emocional. Nesta entrevista exclusiva, o arquiteto David Ito compartilha sua visão sobre como projetar ambientes que conectam pessoas, promovem saúde e potencializam experiências humanas. Conheça suas ideias e estratégias, com respostas completas e originais sobre os principais pilares da neuroarquitetura.
1. O que é Neuroarquitetura?
David, como você define a neuroarquitetura e qual a importância desse conceito na arquitetura contemporânea?
A arquitetura baseada na neurociência é uma maneira de conceber espaços baseada na compreensão do modo de ser e de agir do ser humano, promovendo uma relação direta entre usuário e ambiente e fazendo com que essas espacialidades possam contribuir no bem estar e nos comportamentos pretendidos. Entender que os usuários de determinado espaço terão diferentes reações de acordo com cada experiência proposta e compreender que cada indivíduo possui vivências únicas que vão afetar diretamente no seu comportamento diante de um determinado estímulo têm trazido grandes inputs para o ato projetual, influenciando positivamente na forma como os clientes vivenciam os espaços que propomos.
2. Conforto Acústico: Um Pilar da Neuroarquitetura
O controle acústico é um dos pilares da neuroarquitetura. Como o ruído influencia o bem-estar das pessoas e de que forma podemos mitigá-lo por meio do design?
O ruído tem forte impacto na saúde dos usuários, principalmente nos grandes centros onde o nível sonoro é ainda maior. Em uma significativa parte do tempo, estamos envolvidos em atividades que requerem concentração ou em momentos de descanso, os quais necessitam de uma acústica adequada para serem feitos com maior qualidade. Sendo assim, o controle acústico sempre está entre as principais diretrizes para os nossos projetos, pois influencia diretamente no bem-estar das pessoas. Existem diversas formas de melhorar a qualidade acústica dos espaços e isso vai depender da escala do projeto, seja um edifício, uma casa ou o interior de um apartamento. No entanto, independente da proporção, entendemos que o conforto acústico se encontra através do isolamento e da reverberação do som, por isso trabalhamos com materiais que possuam características isolantes ou absorvedoras, dependendo da intenção.
3. Aplicação da Neuroarquitetura nos Projetos
No seu percurso profissional, como especialista em conforto ambiental, como você aplica os princípios da neuroarquitetura em seus projetos?
Sabemos que o espaço é capaz de influenciar o usuário, por isso, um dos principais pontos é conhecer profundamente cada cliente, entender suas necessidades, sua rotina, sua história de vida, suas motivações. A partir disso, pensamos em uma composição espacial que faça sentido para o dia a dia daquele indivíduo junto a preocupações em relação à iluminação, ventilação e ruído, por exemplo. Com um layout definido, começamos a estudar cada ambiente de forma única, pensando em quais sensações, emoções e experiências desejamos que os usuários sintam naquele espaço, daí em diante, traçamos estratégias projetuais que permitam que essas sensações sejam, de fato, sentidas. Através dos materiais, do uso da vegetação e do desenho de mobiliários conseguimos traduzir uma grande fração dos desejos dos clientes em espaços que se tornarão parte das experiências de vida daqueles indivíduos.
4. Espaços Produtivos e Home Offices
Como a neuroarquitetura pode ajudar a criar ambientes que promovam a produtividade e a concentração, especialmente em espaços como home offices?
Em ambientes voltados à produtividade e concentração, são necessárias estratégias projetuais que possam aumentar o nível de desempenho das tarefas exercidas em determinado espaço. A arquitetura baseada na neurociência traz alguns pontos importantes que são fundamentais para um ambiente de trabalho qualificado, acreditamos que quatro deles são essenciais, são eles: iluminação, temperatura, som e ergonomia dos mobiliários. Uma boa iluminação é necessária para aumentar os níveis de produtividade, pois a falta ou excesso de luz podem causar fadiga visual ou sonolência, por exemplo, por isso indicamos que os ambientes voltados a esse uso possuam uma entrada de luz natural, o que já facilita para uma boa iluminação. Além disso, costumamos trabalhar com três tipos de luz artificial, uma geral e difusa, uma direta voltada para o espaço de trabalho e outra que serve para uma iluminação mais noturna, permitindo que a luz do ambiente interno seja compatível com o exterior para não interferir no ciclo circadiano do usuário. A temperatura e o som também têm grande influência no conforto do usuário, além do uso de materiais que permitam uma melhor qualidade térmica e acústica do ambiente, utilizamos estratégias naturais para a circulação de ar. Por último, acreditamos que a escolha dos mobiliários para esse tipo de ambiente também é essencial para a experiência do usuário, esses elementos precisam ser ergonômicos para que o indivíduo possa ficar horas naquela mesma posição, além das dimensões corretas para o corpo humano, os materiais utilizados também impactam no conforto. Portanto, são várias as estratégias indicadas pela neuroarquitetura que fazem parte da composição espacial de um ambiente para esse uso, lembrando que sempre devem ser pensadas exclusivamente para cada usuário e ocasião.
Conheça um dos projetos de David Ito:
https://davidito.com.br/portfolio-item/apartamento-cds/
5. Iluminação, Ventilação e Controle Térmico
A iluminação, a ventilação e o controle térmico são aspectos fundamentais para o conforto. Como você integra esses elementos aos princípios acústicos em seus projetos para alcançar um equilíbrio ideal?
Uma de nossas premissas é de sempre preferir utilizar as estratégias de forma natural, sejam elas para a iluminação, a ventilação e a acústica. Mas sabemos que nem sempre é possível atingir um equilíbrio entre todos esses aspectos naturalmente, por isso mesclamos esses pontos de maneira natural e artificial. Hoje, existem no mercado, produtos e materiais com características que nos auxiliam a melhorar o conforto nesses três aspectos, por isso, sempre buscamos utilizá-los em nossos projetos. A busca por experiências positivas dos usuários através dos ambientes que projetamos é o nosso foco e acreditamos que o conforto térmico e acústico são a base para obter esse resultado.
6. Primeiros passos para aplicar a neuroarquitetura
Para aqueles que estão interessados em transformar seus espaços com base nos princípios da neuroarquitetura, por onde você recomenda que comecem?
Acreditamos que um dos principais pilares da neuroarquitetura é entender profundamente o comportamento das pessoas. Depois de compreender quais os desejos, motivações e necessidades dos usuários para os quais se está projetando um ambiente, é importante pensar em estratégias para estabelecer condições de conforto térmico e acústico para o espaço. A ideia é sempre pensar no usuário que irá vivenciar aquele ambiente, quais as sensações e emoções desejo evocar naquele indivíduo ao utilizar o espaço? Acreditamos que é assim que se inicia o processo projetual baseado na neuroarquitetura. A partir disso, as estratégias são feitas para se chegar a um resultado positivo.
7. Neuroaquitetura na valorização imobiliária
Como a neuroarquitetura e a preocupação com o bem-estar afetam a valorização de imóveis? Você vê uma tendência crescente nesse sentido?
A busca por ambientes mais qualificados, que promovem experiências positivas, evocam sensações e emoções ao usuário e se preocupam com o bem-estar das pessoas é a premissa dos estudos da neuroarquitetura. Ao atingir esse resultado, é de se esperar que esses espaços tenham maior valor agregado tanto nos aspectos sociais, físicos e emocionais quanto financeiros. Então sim, acreditamos que a arquitetura baseada na neurociência é capaz de influenciar na valorização dos imóveis, pois impacta diretamente na qualidade de vida dos indivíduos que ocuparão aquele espaço, seja residencial, comercial ou corporativo. Acreditamos também que a neuroarquitetura não deve ser uma tendência momentânea, mas sim uma preocupação crônica entre arquitetos e designers de interiores que procuram projetar espaços que promovam maior qualidade de vida aos usuários.
8. Tendências futuras na conexão entre arquitetura e saúde emocional
Quais são as tendências futuras para o desenvolvimento de projetos que busquem maior conexão entre o ambiente construído e a saúde emocional das pessoas?
A base para a construção de ambientes mais qualificados e que promovam experiências positivas aos usuários é a compreensão do modo de ser e agir do ser humano. Entender cada indivíduo como único, com vivências e percepções singulares é fundamental antes de iniciar o processo de projeto. Acreditamos que, cada vez mais, soluções e produtos que permitam a personalização estarão presentes, visto que cada indivíduo tem sua singularidade. Para os projetos comerciais, entendemos que os espaços físicos se tornaram pontos de experiência ao usuário, devido ao grande aumento das vendas online, por isso, torna-se essencial a aplicação dos conceitos da neurociência para a concepção de ambientes que convidem os usuários a vivenciar sensações e emoções dentro dessas espacialidades.
9. Aplicação no planejamento urbano de cidades brasileiras
Em sua visão, como as cidades brasileiras podem evoluir para integrar mais os conceitos de neuroarquitetura, especialmente em áreas densamente povoadas?
No âmbito urbano, a neuroarquitetura busca conceber espaços públicos que influenciem positivamente o comportamento dos usuários. A ideia é que esses espaços sejam, de fato, ocupados pela população, criando vínculos e dando sentido de lugar a essa espacialidade. Para isso, alguns conceitos são importantes para se chegar nesse resultado. O primeiro deles é o ponto de encontro, conceber um espaço que sirva para troca de experiências entre as pessoas, sendo acolhedor e promovendo atividades diversas. O segundo ponto é a conexão com a cidade, através de uma arquitetura característica, da conexão com as vias, convidando o usuário a olhar para a cidade. Por último é dar sentido de lugar a esse espaço, garantindo a sensação de segurança, limpeza, acessibilidade e fazendo com que os indivíduos se sintam parte de um todo.
10. A personalização dos projetos para promover conforto acústico e bem-estar emocional
Como a experiência do usuário final é levada em consideração nos projetos que buscam conforto acústico e bem-estar emocional?
O primeiro passo para estabelecer estratégias projetuais a ambientes que promovem experiências positivas ao usuário é conhecer a fundo esse indivíduo, pois cada um tem vivências, hábitos, costumes, desejos e necessidades singulares. Ao compreender esse indivíduo no âmbito racional e emocional, passamos a pensar o espaço de forma coerente com a personalidade do usuário, buscando conceber uma atmosfera para o projeto que vá ao encontro com o que o cliente busca e deseja.
11. Orientações para arquitetos iniciantes na neuroarquitetura
Por fim, que conselho você daria para novos arquitetos que desejam se especializar em neuroarquitetura e conforto ambiental?
Se especializar em neuroarquitetura e conforto ambiental se tornou essencial para promover ambientes ainda mais qualificados, que promovem sensações e emoções positivas aos usuários. Por isso, buscar conteúdos relacionados a esses temas é fundamental, seja em cursos online, pós graduação ou livros. Estudar a neurociência é o primeiro passo para entender como funcionam os princípios da neuroarquitetura, assim como outros temas que abrangem o estudo do comportamento humano. Portanto, para a aplicação de estratégias projetuais baseadas no conceito da neuroarquitetura, é primordial entender a forma de ser e agir do ser humano.
Conclusão
A entrevista com o arquiteto David Ito destaca como a neuroarquitetura transforma a relação entre pessoas e espaços, considerando o impacto emocional que os ambientes exercem nos usuários. Fica evidente que essa abordagem vai além da estética, focando na qualidade de vida e na personalização dos projetos, por meio da integração de aspectos como conforto acústico, iluminação, ventilação e bem-estar emocional.
David reforça a importância de compreender o comportamento humano e buscar especialização para criar ambientes que conectem ciência e design de forma inovadora, valorizando a singularidade de cada indivíduo. A neuroarquitetura é mais que uma tendência, é um caminho para projetar cidades e espaços que promovam saúde, conforto e experiências positivas.
David Ito
Arquiteto e Urbanista graduado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie em 2006. Concluiu o Curso de Conforto Ambiental e Conservação de Energia na Universidade de São Paulo em 2008, obtendo o título de especialista nas áreas de iluminação, térmica, acústica e insolação. Em junho de 2008 funda o escritório Ito Ventura Arquitetos. Em 2013 iniciou sua trajetória no escritório David Ito Arquitetura.
Conheça o trabalho do David Ito:
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