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O barulho pode ser prejudicial para o cérebro das crianças?

garota tapando os ouvidos com pais atrás

Vivemos em um mundo cada vez mais barulhento. Em grandes cidades, estamos constantemente expostos ao barulho do trânsito, de obras, de aparelhos eletrônicos e até de bate papos daqueles vizinhos inconvenientes. Para os adultos, o cérebro já desenvolvido consegue filtrar parte dessa poluição sonora para não atrapalhar tanto o nosso dia a dia. Mas você sabia o quanto o barulho é prejudicial para as crianças?

O excesso de barulho pode prejudicar o desenvolvimento infantil, afetando a aprendizagem, memória, concentração e até mesmo a saúde emocional. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o nível recomendado de ruído para ambientes infantis é de até 50 decibéis (dB) – equivalente a uma conversa normal entre duas pessoas em um ambiente fechado. No entanto, muitas crianças vivem ou estudam em locais onde esse limite é facilmente ultrapassado.

A seguir, vamos explorar como o barulho é prejudicial para criança e o que podemos fazer para reduzir esses impactos.

Os efeitos da exposição ao barulho

O barulho faz parte do cotidiano e pode ser causado pelas mais diversas fontes. Observe o ambiente em que você está inserido, seja sua casa, apartamento ou ambiente de trabalho, e perceba se você as vezes não precisa aumentar o seu próprio tom de voz para ser ouvido ou fechar as janelas por conta de barulho, isso já indicaria uma poluição sonora elevada e deve levantar um alerta sobre o efeito desses barulhos para as crianças.

Entretanto, o excesso de barulho está presente em diversos momentos da nossa rotina, influenciando diretamente a concentração, o humor e a saúde mental. Ruídos constantes, como o trânsito, máquinas, eletrônicos e até conversas em volume alto, podem gerar fadiga mental e estresse, dificultando a realização de tarefas diárias.

Em ambientes de trabalho e estudo, a poluição sonora reduz a produtividade e a capacidade de retenção de informações, tornando atividades que exigem foco ainda mais desafiadoras. Um ambiente ruidoso pode afetar o sono e o descanso, prejudicando a qualidade de vida e aumentando os níveis de irritabilidade ao longo do dia. Controlar e reduzir a exposição a esses sons é essencial para manter o bem-estar e garantir um cotidiano mais equilibrado.

menino tapando os ouvidos

A maioria dos barulhos vêm do ambiente ao redor e, muitas vezes, são mais difíceis de controlar e dependem principalmente da região onde você reside. Por exemplo, trânsito e ruas movimentadas próximas da janela do seu apartamento pode gerar até 80 dB com o som dos carros, ônibus, motos e buzinas. Enquanto isso, obras e construções com o maquinário pesado, britadeiras e serras produzem ruídos intensos e podem ultrapassar 100dB.

Morar próximo de aeroportos ou ferrovias também pode tirar a sua paz com um avião decolando próximo do seu apartamento atingindo próximo a 70 dB dependendo da proximidade, a 20m de distância o som é de 140 dB. Regiões mais movimentadas com bares, festas, escolas, igrejas, indústrias e fábricas, tudo pode contribuir com um ambiente mais barulhento dentro da sua casa.

Dependendo da cultura ou criação, até conversas e gritos podem ser uma fonte de barulho constante que passa desapercebido por muitos. Além disso, vizinhos de apartamento arrastando móveis, pisos rangendo e portas batendo também são fontes de ruído e podem até gerar brigas dentro do condomínio.

Vizinhos fazendo barulho incomodando

Como o barulho prejudica as crianças?

O excesso de ruído pode gerar irritabilidade, estresse e até hiperatividade em crianças. Quando expostas constantemente a ambientes barulhentos, elas podem ter dificuldades para regular suas emoções, o que pode resultar em impulsividade, agressividade ou até ansiedade crônica.

Esse efeito pode ser comparado a um computador com muitas abas abertas ao mesmo tempo, tentando processar todas as informações simultaneamente, mas sem conseguir focar em nada específico. Para as crianças, essa sobrecarga sonora pode se manifestar como falta de paciência, dificuldade de concentração e até problemas de socialização.

O impacto do ruído na qualidade do sono infantil

O cérebro humano passa pelo seu maior desenvolvimento nos primeiros seis anos de vida (cerca de 90%), e nessa fase ele é extremamente sensível a estímulos externos. O sistema nervoso infantil é altamente responsivo aos sons do ambiente, e a exposição a ruídos intensos pode desencadear efeitos negativos a longo prazo.

Dessa forma, o sono também é afetado pelo excesso de barulho. A qualidade do sono é essencial para o desenvolvimento cognitivo e emocional. Estudos revelam que crianças que dormem em ambientes barulhentos apresentam padrões de sono interrompidos, o que pode levar a fadiga, dificuldades de atenção, irritabilidade, mau humor e baixo desempenho escolar, além de indiretamente atrapalhar o sono dos seus adultos responsáveis.

Bebê dormindo tranquilo

Poluição sonora e estresse infantil

Crianças que vivem em locais com altos níveis de ruído podem desenvolver dificuldades emocionais. Isso ocorre porque o ambiente ruidoso pode gerar uma sensação constante de hostilidade, de ambiente perigoso. Esse excesso de barulho pode aumentar os níveis de cortisol, o hormônio do estresse, levando a sintomas como irritabilidade, dificuldade para relaxar, aumento da pressão arterial e sensação de insegurança ou desconforto.

A longo prazo, essa sobrecarga emocional pode afetar a autoestima e o bem-estar das crianças, tornando-as mais ansiosas e menos confiantes em interações sociais.

Ainda, a exposição prolongada a sons intensos pode causar danos permanentes à audição, especialmente em bebês e crianças pequenas, cujos ouvidos ainda estão em desenvolvimento. Sons acima de 85 dB – equivalente ao barulho de um trânsito intenso – podem destruir células auditivas e levar à perda auditiva irreversível.

De uma forma até indireta, viver em um ambiente excessivamente ruidoso, pode levar à criança a se acostumar a usar fones de ouvido, principalmente na adolescência, essa pode parecer uma solução eficaz para lidar com a constante distração, mas o uso excessivo do fone de ouvido em um volume alto pode levar a perda de audição precoce e pode ser irreversível a longo prazo.

Efeitos do barulho na fala, cognição e memória

Crianças que crescem em locais ruidosos podem ter dificuldades no desenvolvimento da fala e da linguagem. O excesso de sons pode mascarar fonemas, dificultando a compreensão e reprodução correta das palavras.

Isso é especialmente prejudicial na primeira infância, período essencial para a construção do vocabulário e da comunicação verbal. Em alguns casos, essas dificuldades podem se estender para a vida escolar, afetando habilidades de leitura e escrita e até sendo motivo para bullying.

De acordo com um estudo publicado na revista Environmental Health Perspectives, o ruído pode atrapalhar a consolidação da memória, interferindo na forma como as crianças processam e retêm informações. Isso acontece porque o cérebro precisa de momentos de silêncio e concentração para assimilar conteúdos novos – algo difícil de alcançar quando é interrompido constantemente em um ambiente barulhento.

Até sons seguros para o ouvido podem causar reações adversas a saúde se interferirem cronicamente em atividades recreacionais como o sono ou relaxamento, se atrapalham comunicação e inteligibilidade, ou se interferem nas tarefas mentais que necessitam um alto nível de atenção e concentração.

Pediatras alertam para os efeitos da exposição excessiva aos mais diversos tipos de barulhos. Dependendo da intensidade e da frequência dessa exposição, crianças pequenas podem ter problemas no desenvolvimento e até perdas irreversíveis para a audição.

Sinais de que o barulho está afetando a criança

Nem sempre percebemos o impacto do barulho no dia a dia, mas há alguns sinais que mostram como ele pode afetar diretamente o comportamento e a saúde das crianças.

Os pequenos, especialmente aqueles que ainda não conseguem se expressar verbalmente, podem manifestar sinais sutis de que estão sendo prejudicados pelo excesso de ruído ao seu redor. Estar atento a essas manifestações é essencial para evitar problemas no desenvolvimento infantil.

Em bebês, a falta de resposta a sons altos, como batidas de porta ou latidos de cachorro, pode indicar que a audição está sendo afetada. Além disso, aqueles que não acordam com barulhos intensos, não procuram a origem dos sons ou apresentam dificuldades no desenvolvimento da fala também podem estar sofrendo impactos da poluição sonora. Outro sinal importante é a irritabilidade frequente e dificuldades para dormir, pois um ambiente barulhento pode dificultar a autorregulação do sono e do humor.

Já em crianças e adolescentes, alguns sinais de alerta incluem dificuldade para prestar atenção, falta de resposta quando chamadas, aumento excessivo do volume da televisão ou fones de ouvido, além da necessidade constante de repetir perguntas ou respostas durante uma conversa. Quando expostas a ruídos intensos frequentemente apresentam menor desempenho escolar, dificuldade para seguir instruções e desinteresse por atividades em grupo, fatores que podem ser confundidos com falta de atenção ou desmotivação – o que, na verdade, estão ligados ao ambiente ruidoso em que vivem.

Garoto frustrado tentando estudar

Como reduzir os impactos do barulho no desenvolvimento infantil?

Embora o ruído seja uma realidade inevitável em certos contextos residenciais e sociais, existem estratégias que podem minimizar seus efeitos negativos no desenvolvimento infantil. Aqui estão algumas soluções a se considerar:

Organize espaços silenciosos em casa

Organize os espaços dentro de casa para que a criança saiba onde e para o quê cada cômodo serve. Retirar alguns aparelhos eletrônicos do quarto ou estabelecer limites para o uso deles ajuda a criança a ter espaços dentro de casa onde o barulho seja minimizado. Isso auxilia a manterem o foco nos estudos e a terem um sono reparador. Estabelecendo esses locais para estudo e descanso.

Uma das formas mais eficazes de reduzir a poluição sonora em casa é a instalação de janelas e portas com isolamento acústico. Esses produtos ajudam a criar um ambiente mais silencioso e propício para o descanso e o aprendizado das crianças.

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Frequente espaços verdes e áreas de lazer tranquilas

Opte por explorar ambientes ao ar livre frequentemente se possível. Locais como parques ou fazendas podem ajudar a amortecer os sons urbanos e proporcionar um refúgio temporário do ruído para as crianças. Criando uma experiência terapêutica de desintoxicação desses estímulos e aceleração do dia a dia.

Use tecnologia para avaliação e controle de ruído

Aplicativos e dispositivos que monitoram os níveis sonoros podem auxiliar pais e educadores a identificarem ambientes excessivamente ruidosos e tomarem medidas para reduzi-los. Outros aplicativos como aqueles que monitoram a qualidade do sono também podem ajudar a avaliar a qualidade do ambiente sonoro de onde sua família descansa.

Fique atento às regras de poluição sonora

Respeite e ajude a manter as medidas governamentais que limitem a exposição ao ruído, como controle de níveis sonoros em escolas e áreas residenciais ou condomínios. Se alguém está perturbando a paz de outras pessoas com som alto fora do horário, você tem o direito de denunciar.

Conscientize a criança sobre o assunto

Se sua criança já estiver em uma idade adequada para conversar e entender, já comece educando sobre o que aprendeu sobre ambientes barulhentos. Isso te dará um pequeno aliado e ajudará a criança a perceber e comunicar melhor suas necessidades que podem estar passando desapercebidas. Não subestime a capacidade da sua criança de entender e querer cuidar do ambiente em que ela vive.

Menina pedindo silêncio

A exposição constante ao ruído pode comprometer a aprendizagem, afetar a memória, prejudicar o desenvolvimento emocional e causar problemas de sono. Pais, educadores e responsáveis devem estar atentos a essa questão e buscar soluções para minimizar os impactos negativos do ruído na vida das crianças.

Investir em soluções para o isolamento acústico, educar sobre os perigos da poluição sonora e promover ambientes mais tranquilos são estratégias essenciais para garantir um desenvolvimento infantil saudável e equilibrado. Além disso, a colaboração entre escolas, famílias e políticas públicas pode fazer a diferença na construção de um futuro onde o silêncio seja valorizado e respeitado.

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